A demanda no país por imóveis quase dobrou em dois anos, puxada pelas classes C, D e E. Mais de 9,1 milhões de famílias brasileiras declararam intenção de comprar uma habitação em um prazo de até 12 meses no fim de 2010, o que representa 4,9 milhões a mais do que no último trimestre de 2008.
A constatação é baseada em pesquisa do Data Popular, obtida pela Folha, e feita com 3.005 brasileiros em 35 municípios. A projeção é realizada a partir das respostas dadas pelos entrevistados.
A economia aquecida e o programa Minha Casa, Minha Vida, lançado pelo governo federal em abril de 2009, são apontados por especialistas como os principais fatores para o impulso.
"Antes, o sonho da casa própria era distante. Com o aumento do crédito, da renda e as condições facilitadas do MCMV (Minha Casa Minha Vida), mais brasileiros passaram a ter condições de comprar um imóvel e colocaram isso como uma meta", diz Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular.
Os benefícios do programa, destinado a famílias com renda de até R$ 4.900, vão de taxas de juros reduzidas a subsídios do governo.
Entre os que apontaram intenção em adquirir um imóvel, 83% estão nas classes C (com renda familiar de 3 a 10 salários mínimos), D (1 a 3) e E (até 1). Enquanto isso, 17% são da A e B (10 a 20).
Antes do MCMV, os consumidores de baixa renda tinham um peso menor nas estatísticas: eram 61%, enquanto os do topo da pirâmide somavam 39%. "A mudança no quadro mostra a consolidação das famílias da classe C e a chegada das classes D e E, que passam a ter condições de comprar."
A pesquisa mostra ainda que 74% das famílias que pretendem adquirir uma habitação declaram ter algum medo relacionado à compra, como não receber o imóvel ou não conseguir quitá-lo.
NOVAS MEDIDAS
Para o presidente do Secovi-SP (sindicato da habitação), João Crestana, apesar do setor estar aquecido e a procura ser significativa, "o deficit habitacional ainda é elevado", o que demonstra que muitas famílias continuam com dificuldades em ter acesso a um imóvel.
"São entre 6 milhões e 7 milhões de moradias [que representam o deficit]. Ainda não há condições de atender a toda essa demanda reprimida, o que levará entre 10 e 15 anos".
O MCMV, por exemplo, entregou apenas 230 mil casas e apartamentos até 27 de dezembro, segundo balanço obtido pela Folha. Quando foi lançado, o governo anunciou a intenção de construir 1 milhão de moradias, sem prazo definido.
Segundo Crestana, o setor precisa enfrentar alguns obstáculos. "Temos mão de obra escassa, gargalos para obter alguns equipamentos, como os elevadores de obras, e a necessidade de pensarmos em recursos alternativos de financiamento, uma vez que poupança tem os seus limites".
A coordenadora de projetos da construção da FGV Projetos, Ana Maria Castelo, avalia que é necessária uma discussão sobre aumento dos subsídios dentro do MCMV, assim como uma revisão no valor dos terrenos.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
REVISÃO
No dia 2 de Janeiro, o governo aumentou os valores dos imóveis construídos dentro do programa e financiados com recursos do FGTS.
Com isso, nas regiões metropolitanas de São Paulo, do Rio de Janeiro e no Distrito Federal, as casas e apartamentos podem chegar a R$ 170 mil. Até agora, o valor máximo era de R$ 130 mil.
Nas demais capitais e cidades com mais de 1 milhão de habitantes, o valor passou de R$ 130 mil para R$ 150 mil. Nos municípios que têm entre 250 mil e 1 milhão de habitantes, passou de R$ 100 mil para R$ 130 mil, e, naqueles com população entre 50 mil e 250 mil habitantes, de R$ 80 mil para R$ 100 mil.
Nos restantes, o valor foi mantido em R$ 80 mil.
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